quarta-feira, 27 de julho de 2011

O método secreto de atrair a felicidade

Uma preciosa inscrição, o Gokai Sansho, cuidadosamente redigida por Mikao Usui sobre um delicado pedaço de seda, foi por ele colocada em destaque numa das paredes da sua Gakkai(clínica/escola) e era repetida em cada duplicação do Hikkei(manual) através do qual foi divulgado o seu maravilhoso método de cura, o Usui Reiki Ryoho,que, naquela época era chamado Usui Do(Caminho de Usui) ou então Usui Teate (Toque das Mãos de Usui, ou Cura Através das Mãos Segundo Usui).
Os chamados Princípios do Reiki, Gokai Sansho em japonês, constituem um pequeno conjunto de preceitos preconizados por Mikao Usui. Eles constituem como que uma regra de vida tendente a melhorar significativamente a forma como cada um de nós se relaciona consigo próprio, com a sociedade em geral e com o meio ambiente. Sugere-se a todos a busca do seu pleno cumprimento, particularmente aos praticantes de Reiki, podendo dizer-se que constitui umatarefa para toda a vida, uma vez que dificilmente alguém a conseguiráconcretizar cabalmente.

Eles reflectem, primeiro que nada, toda a ancestral sabedoria oriental, baseada numa filosofia e numa tradição muito sólidas, da qual fazem parte pelo menos normas xintoístas, budistas e taoistas e que exprimem a transcendenteimportância que tais povos desde sempre têm dado ao equilíbrio da parceriamente-espírito-matéria.

Embora tais princípios venham sendo apresentados ao longo de muitos anos como tendo sido integralmente concebidos pelo próprio Mikao Usui
[1], na realidade, ele apenas adaptou as máximas (preceitos ou regras de vida) estabelecidas pelo imperador Meiji[2] para seu uso pessoal, bem como dos seus súbditos. De acordo com a ilustração, em que o texto nela contido é lido da direita para a esquerda e de cima para baixo, podemos observar, coluna a coluna:
Chofcuno ihoo
O método secreto de atrair a felicidade
Mambió no leiacu
O remédio espiritual para todas as doenças
Queo daqueuá
Só por hoje
Ocoru-na
Fica sereno
Chimpai suná
Fica tranquilo
Can Chaxté
Sê grato
Goo agué mé
Trabalha com afinco
Xtoni chinsetsuni
Sê bondoso para todos
Assaiu ga choxté cocoroninenji, cuchini tanaeio
De manhã e à noite, senta-te em gassho, recita estas palavras e sente-as no coração
Chin chin cáizen, Usui Leiqui Riooco
(para) Melhorar o corpo e o espírito, Usui Reiki Ryoho
Chosso Usui Micáo
O fundador Mikao Usui
A adequação dos princípios ao nosso uso pessoal, passa por modificarmos parcialmente o discurso, colocando-o na primeira pessoa do singular, a fim de melhor o interiorizarmos:


Só por hoje...
Estou sereno
Estou tranquilo
Sou grato
Trabalho com afinco
Sou bondoso para todos

Tendo em conta a prática quotidiana destes preceitos, a experiência de distintas vivências ir-se-á encarregar de revelar a cada um de nós que o trajecto mais simples, aquele que mais alegrias e satisfações nos poderá trazer, acabará sempre por ser o caminho do bem, o de praticar e difundir o amor incondicional, que é ao fim e ao cabo o que preconizam os princípios do Reiki e que são coincidentes com aquilo para que a intuição nos tentava chamar a atenção.

É minha convicção pessoal que a bênção que me foi concedida pelo Universo ao transformar-me, através da iniciação, num canal da energia de cura, implica uma dívida pessoal que devo ter a preocupação de saldar enquanto me for fisicamente possível, procurando tornar-me melhor, mais puro, mais alegre, a fim de poder irradiar amor incondicional por todos os seres que me rodeiam.

Só por hoje...
Para tanto, de acordo com as instruções de Usui, reflicto diariamente e procuro levar à prática cada um destes princípios, o que com o tempo tem vindo a simplificar o seu cumprimento, pese embora o facto de por vezes ainda cometer erros tremendos.

O método que utilizo, que me foi transmitido por outros mestres, e que sinto que resulta bem, consiste em:
  • logo pela manhã, ao acordar, enumero três vezes a lista de princípios e prometo a mim próprio procurar cumprir cada um deles tão bem quanto as minhas capacidades o permitam;
  •  durante o dia, sempre que me lembro, tento não os contrariar com acções nefastas não apenas para os outros, mas sobretudo para mim próprio;
  • à noite, prestes a ir-me deitar, ao iniciar o auto-tratamento, repito três vezes a sua enumeração e de seguida, pondero seriamente acerca do modo como decorreu o meu dia e analiso quais as circunstâncias em que cumpri menos bem os preceitos, ou aquelas em que de todo os não cumpri e, no decorrer dessa meditação, procuro a forma de reparar os erros cometidos.
Como se pode constatar, não é mais que uma rotina, uma rotina salutar e que não envolve muito tempo, e que se outra vantagem não tiver, tem pelo menos a de me pôr a pensar em mim próprio e de me levar a amar-me mais um pouco, aprendendo a reconhecer e lidar com os meus defeitos e limitações, como via para conseguir amar mais e melhor cada um dos meus semelhantes.

Tratemos agora de nos debruçarmos sobre cada um dos princípios em particular, a fim de captar o seu verdadeiro significado.

Estou sereno
Irritarmo-nos, deixarmo-nos dominar pela ira, zangarmo-nos, criticarmos, são actos inúteis, ineficazes e prejudiciais e, ao fazê-lo, pomos em movimentoenergias desagregadoras, dividimos e colocamos barreiras. Pelo contrário, aserenidade transporta em si energias boas, úteis...

Esquecemo-nos muito facilmente de que cada uma das pessoas que nosrodeiam, ou que nos contactam, mesmo que esporadicamente, é o reflexo de uma parte de nós mesmos ou da nossa consciência, que está ali, como que umespelho, para nos ajudar a olhar para nós, a tomar consciência do que somos e a conhecermo-nos melhor, para nos permitir aprender qualquer lição, para nos permitir construir mais facilmente o nosso caminho.

Ao zangarmo-nos com ela ou ao criticá-la, estamos a zangar-nos ou a criticar essa parte de nós mesmos. Mais grave ainda, criamos em nós entidades energéticas, que enquanto não forem libertas, continuarão a reclamar o seusustento energético, mesmo depois de termos esquecido o motivo da zanga ou da crítica.

Os nossos pensamentos são como sementes que acabarão um dia por dar fruto. Esse fruto, quando chegar à maturidade, será por nós colhido, quer queiramos quer não. No campo da consciência, semear é facultativo, mas colher éobrigatório. Muitos ditados da nossa sabedoria ancestral ensinam isso mesmo: "Quem semeia ventos colhe tempestades", "Não cuspas para o ar", etc.

Criticar ou recusar uma parte de nós mesmos é dar ordens ao nosso sistema de comando, para não alimentar com energia essa parte que não aceitamos ou de que temos vergonha. Quando uma parte do nosso corpo é tratada dessa maneira, as células irão deformar-se, degenerar ou morrer.

Quando alguém desencadeia a nossa irritação, a forma correcta de reagirmos é procurar determinar qual a parte de nós mesmos que está a insurgir-se. Regra geral, trata-se de uma parte que não queremos aceitar, um sentimento reprimido, uma energia considerada inaceitável pela sociedade ou pelo sistema em que evoluímos.

Essa parte de nós mesmos, acabará por ter de ser curada e reintegrada. Tarde ou cedo teremos de reintegrar todas as partes de que somos constituídos, pois só quando formos unos com tudo e com todos, teremos por fim realizado a nossamissão.

Estou tranquilo
O facto de nos preocuparmos ocorre por não nos lembrarmos de que existe umalógica e uma sincronia que ligam todos os fenómenos entre si. Não há a menorvantagem em preocuparmo-nos com o passado, uma vez que o modo comoreagimos face a determinado número de condicionantes tem sempre por base o conjunto de conhecimentos de que dispomos, fazendo cada um de nós aquilo que tem a fazer, dando sempre o seu melhor.

Ao lamentarmos uma acção passada, é necessário que entendamos que agimosde acordo com os recursos de que dispúnhamos na altura, sendo preferível reflectirmos acerca do ocorrido, procurando a lição que aí se oculta. Mesmo no caso de termos sido vítimas de alguma acção injusta, quem praticou tais acções ficou subordinado a um determinado condicionamento, pelo que será conveniente não alimentarmos iras nem rancores, mas antes desejar que aprendam rapidamente com essas lições.

De nada adianta também preocuparmo-nos com o futuro, uma vez que o estamos a criar a cada momento, pois aquilo que o futuro nos poderá reservar depende e é consequência do presente. Ao cultivarmos uma acção que tenha por base a pureza de pensamentos e atitudes, a bondade e a indulgência, o amor incondicional, então estamos a cultivar um futuro com o qual não teremos de preocupar-nos. Face a isto, o ideal será permanecermos tranquilos.

O simples facto de não nos preocuparmos, induz-nos a encarar maiscalmamente e mais seguramente o dia-a-dia, conscientes de que tudo está agirar em nosso redor a um ritmo adequado e coerente. Tal como cada elemento de que o Universo é composto está a deslocar-se numa órbita perfeita e infalível, também nós só teremos de nos colocar na órbita correcta e deixarmos as preocupações de lado, passando então a sentirmo-nos como um todo, somos nós o Universo.
Ao cultivarmos uma atitude de gratidão, sentimo-nos agradecidos com tudo aquilo que o Universo nos brinda, assim como adquirimos a confiança de quereceberemos tudo aquilo de que realmente necessitamos. Consequentemente, seremos recompensados pela nossa conduta, uma vez que ela está a atrair aabundância.

Cada um de nós tem o direito de aceitar a abundância e, se por alguma razão, nos convencermos de que não merecemos possuir determinados bens, estaremos automaticamente a bloquear o seu fluxo natural. Assim, ao adquirirmos plenaconsciência da abundância que nos rodeia, ao manifestarmos a nossa gratidãopor ela, jamais deixará de nos acompanhar. Contrariamente, ao realçarmos constantemente aquilo que não possuímos, estamos a sujeitar-nos a uma vida decarência.

Segundo o budismo, o apego e a cobiça, constituem a origem do sofrimento. Reflictamos um pouco: Por maior que seja a quantidade de bens que já acumulámos, será que nos sentimos gratos? Temos por hábito manifestar gratidão pelas abundantes refeições com que diariamente nos alimentamos? Já alguma vez nos sentimos gratos por termos um tecto que nos abrigue ou uns sapatos que nos protejam os pés? Será que nos lembramos alguma vez davastidão da abundância em que vivemos?

Sabermos aceitar os fenómenos que nos parecem menos bons é também um sinal de gratidão. Eles não são obra do acaso, mas da existência que construímos, e são lições que aguardam a sua vez de serem aprendidas. Se conseguirmos ultrapassar a mágoa e a dor e, como observadores imparciais, procurarmos as benesses que uma situação aparentemente nefasta nos proporcionou, então teremos entendido o quão vantajoso é sentirmo-nos gratospor tudo.

Trabalho com afinco
O trabalho a que aqui é feita referência não é propriamente aquele que nos garante os meios de subsistência, mas sim o nosso trabalho interior, a nossa evolução como seres humanos. Ao afirmarmos o nosso empenho em trabalharmos com afinco em prol do nosso desenvolvimento espiritual, estamos a comprometer-nos a tirar a necessária vantagem de cada fenómeno, de cada fracção de segundo da nossa existência.

Mikao Usui concebeu o Reiki tendo como derradeiro propósito que todos nós, seres humanos, atingíssemos o sattori (a iluminação), adquirindo a capacidadede curarmos quer a nós quer aos outros, como todo que na realidade somos. Porém, desde então, muito tempo (à escala humana) se passou e a religação àFonte Universal de Vida, do Amor e da Harmonia acabou por se ir perdendo comoobjectivo e hoje permanecemos entorpecidos, não contribuindo para a evolução do todo e permitindo que a raiva, o apego, o ódio e as restantes manifestações afectas à faceta inferior do ego continuem a dificultar essa ligação.

O trabalho que se impõe a cada um de nós é efectivamente que zelemospelo nosso constante aperfeiçoamento e evolução.

Sou bondoso para todos
Após tantos erros cometidos em nome daquilo a que convencionámos chamar progresso e civilização, começamos finalmente a reconhecer que necessitamoserradicar muito rapidamente a nossa propensão egocêntrica de querermos moldar tudo a nosso favor, de tentarmos controlar a natureza. Ao abrimos mão desta tendência, aprendendo a manifestar o nosso amor, bondade erespeito perante todas as formas devida, estaremos a entrar em sintonia com o todo.

Os mais recentes postulados da física, em concordância com o budismo, indicam que não existe matéria, mas apenas energia em distintos níveisvibracionais, interconectados entre si, num todo. Desse ponto de vista o todo somos nós e somos portanto apenas um, pelo que, ao assumirmos perante os outros posturas distintas das indicadas, estaremos a atingir-nos a nós próprios também, como parte desse todo. Ao sermos bondosos, amorosos e respeitadores para com os outros, estaremos simultaneamente a sê-lo paraconnosco próprios, aceitando-nos, funcionando este princípio em ambos os sentidos.

Nesse contexto, o julgamento constitui um aspecto que deverá ser merecedor da nossa melhor atenção, uma vez que consumimos tanta energia a apontar erros aos outros, esquecendo-nos de que estamos apenas a procurar ocultarde nós mesmos aspectos que rejeitamos mas que necessitamos corrigir. Se entendermos que nada do que ocorre à nossa volta é por acaso, mas que se destina a constituir mais uma ferramenta para a nossa evolução, conseguiremos entender mais facilmente o peso negativo do julgamento, caso contrário estaremos constantemente a desperdiçar essas lições.

Claro que é bem mais cómodo julgar o outro, apontar-lhe o dedo, mas foquemos a atenção na nossa mão ao fazermo-lo e contemos quantos dedos estamos a deixar voltados para nós próprios...

[1]         A esmagadora maioria das escolas ocidentais divide-se entre duas teorias, ambas fantasiosas e sem o menor fundamento verídico, havendo aquelas que afirmam que Mikao Usui as recebeu por “canalização”, no decorrer do período de meditação e jejum de 21 dias a que se submeteu no monte Kurama, ao passo que outras remetem a sua “descoberta” para sete anos mais tarde, quando se voltou a deparar com os pedintes que anteriormente havia curado.
[2]         Conhecido no ocidente apenas por Mutsuhito, Meiji Mutsuhito Tenó, que nasceu em Kyoto em 1852 e faleceu em Tokyo em 1912, foi imperador do Japão no período que mediou entre 1867 e a data da sua morte, dando origem à denominada era Meiji, no decorrer da qual, após ter posto fim ao regime feudal que tirava partido de um método de governação por intermédio de um xógum, transferiu a capital para Edo (também Yedo, ou Tokyo, como actualmente é chamada) e instaurou um novo regime, igualmente prepotente e autocrático, porém mascarado de monarquia constitucional, portanto com uma aparência parlamentar e mais liberal. O período da sua governação, no decorrer da qual se verificou um vigoroso impulso na modernização económica e social do país, resultante da sua abertura ao resto do mundo (bem como a expansão territorial, ainda que temporária e como resultado das derrotas infligidas a países vizinhos subdesenvolvidos, nomeadamente à China e à Rússia, respectivamente em 1895, a ilha de T’ai-Wan, o arquipélago dos Pescadores e Leao-Tong, e em 1905, sobretudo a Coreia, o Mandchukuo e posteriormente o Chan-Tong, com o Japão alinhando ao lado das potências colonialistas ocidentais) coincidiu com grande parte da vida de Mikao Usui, tendo decerto as ideias e atitudes do imperador tido grande influência não apenas nele como em muitos outros japoneses, particularmente dos meios intelectual e empresarial.